Sexta-feira, Abril 19, 2024
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San Sebastian abre com a fuga da prisão na edição dos 70 anos de cinema

Sim, 70 anos é muito tempo, como diz a canção. Muitos anos e muitos filmes a projectar. Ainda por cima depois de dois anos de pandemia. Portanto, havia muito a celebrar na abertura da 70.ª edição do Festival de San Sebastian, presidido pelo director José Luis Rebordinos. Por isso mesmo, foram também muitas as velas apagadas na sessão de abertura de gala, no serão da passada sexta-feira, com direito até a canção de aniversário e tudo. E uma montagem vídeo de tributo com imagens ainda dos tempos do período franquista, incluindo até o testemunho real de duas senhoras que estiveram na primeira edição em… 1953, antes ainda da exibição o filme de abertura Modelo 77, do cineasta sevilhano Alberto Rodríguez. Mas já lá vamos.

Importante é mencionar que, este ano, a cara do festival é da actriz francesa Juliette Binoche. Ela que receberá a consagração do prémio Donostia, entregue pela cineasta espanhola Isabel Coixet, e irá ainda promover o filme Le Lycéen, de Christophe Honoré, exibido na secção oficial, bem como Avec Amour et echarnemnet, de Claire Denis, cuja estreia mundial ocorreu no festival de Berlim, em fevereiro passado. O outro distinguido com o Prémio Donostia será o canadiano David Cronenberg, que apresenta o filme Crimes of the Future, já exibido em Cannes, prémio que será entregue pelo colega Gaspar Noé.

De referir que o filme agendado para a cerimónia de encerramento, em estreia mundial no próximo dia 26, será Marlowe, de Neil Jordan, com Liam Neeson, Diane Kruger e Jessica Lange nos protagonistas, inspirado no romance The Black Eyed Blonde, de John Banville, na Los Angeles de 1930 onde o detective Philip Marlowe (Neeson), uma personagem criada por Raymond Chandler há quase um século, tenta encontrar o paradeiro do amante desaparecido de uma herdeira bonita.

Cerimónia de abertura. Foto:Pablo Gomez

Infelizmente, a cerimónia que não pode contar com a actriz americana Glenn Close, que chegou a ser dada com Presidente do Júri, mas que teve de cancelar a sua deslocação ao Paris Basco em virtude de “problemas familiares”. O que não faltou foi a tradicional entrega do Prémio FIPRESCI (Federação Internacional da Crítica Cinematográfica), celebrando a escolha do filme do ano. Desta feita, para Drive My Car, do japonês Ryusuke Hamaguchi, uma fita revelada do festival de Cannes 2021, e que recebeu também o Óscar de melhor filme internacional. Por sinal, um realizador que foi já reconhecido no festival de Donostia quando, em 2008, o seu filme Passion foi exibido na secção de Nuevos Directores.

Mas voltemos a Modelo 77, o filme baseado em factos reais que abriu a secção competitiva para a Concha de Ouro, e realizado por um cineasta muito querido em San Sebastian, pois Alberto Rodríguez viu o seu trabalho premiado neste festival com os filmes Terras Pantanosas/La Isla Minima (2014) e El hombre de las mi caras (2016). Desta vez, estamos em pleno período da desmontagem do regime franquista e o questionável período da intitulada ‘transição’ e a famosa fuga de 45 prisioneiros, em 1978, um ano depois de das eleições democráticas. É dentro da prisão Modelo de Barcelona que Manuel (Miguel Herrán), um contabilista acusado de fraude acaba por envolver-se também num colectivo de presos políticos, e o companheiro de cela, veterano Pino (Javier Gutiérrez). Como diria o cineasta, “uma prisão é sempre um reflexo da sociedade”.

Marco Martins aguarda a sua vez

Entretanto, há uma grande expectativa para vermos a presença portuguesa Selecção Oficial, com a estreia mundial para a próxima terça-feira, dia 20, de Great Yarmouth: Provisional Figures, do português Marco Martins, o cineasta que viu o seu Alice ser premiado em Cannes em 2005.

Trata-se de uma história pouco conhecida em Portugal e que se desenrola três meses antes do Brexit, com os problemas de identidade de centenas de emigrantes que desembarcam na costa do Great Yarmouth, no Reino Unido, outrora uma estância balnear entretanto transformada numa zona fabril de processamento de carne de peru e galinha. Este é um filme que nasceu de uma coprodução no âmbito do FITEI (Festival Internacional de Expressão Ibérica) baseado em testemunhos de quem viveu de perto esta experiência.

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