Terça-feira, Março 19, 2024
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Berlinale: Céline Sciamma, Hong Sangsoo e Xavier Beauvois, por detrás da experiência

Dois filmes franceses foram exibidos em estreia mundial na competição principal em Berlim: Albatros, de Xavier Beauvois, e Petite Maman, de Céline Sciamma. Além de serem ambos vencedores em Cannes lutam agora pelos prémios da Berlinale. Um ano depois de vencer em Berlim, o coreano Hong Sangsoo regressa ao local onde foi feliz para uma Introduction…

Não espanta que os dois filmes franceses na competição da Berlinale se tenham mostraram bastante afinados. Trata-se de cineastas já com alguma experiência. Tal como em Dos Homens e dos Deuses, vencedor do Grande Prémo do Júri, em Cannes 2010, o aspecto moral domina a personagem: há uma década atrás, a serenidade beatífica dos monges diante a proximidade de grupos extremistas; agora, a luta interior de um agente da polícia de um apequena cidade da Normandia que acabam por mata acidental um conterrâneo quando tentava impedir que este se suicidasse.

Petite Maman
Petite Maman

O mesmo se passa com o novo filme de Sciamma, depois da avalanche de prémios com Retrato de Uma Rapariga em Chamas, em 2019, incluindo o melhor guião em Cannes. Ambos se dedicam à compreensão do que é a morte, à experiência de um contato muito próximo com ela e à capacidade de se libertar dos sentimentos de culpa e medo. Em Petite Maman, uma menina fica perturbada por não ter tido tempo para se despedir da avó . Cada um deles segue o seu próprio caminho na forma como sara as suas feridas, sendo que uma outra coincidência é que esse caminho passa pelo contato com a natureza. O próprio nome ‘albatroz’ remete-nos para o mar, para o sentido de viajante; no caso da menina, é a floresta que irá ajudar. E aí, a solidão dará origem a encontros inesperados.

O sentimento de ambos os filmes é quase o mesmo – sem grandes descobertas nem choques. Sendo que permite ao ator Jérémie Renier, um actor muito próximo do cinema dos irmãos Dardenne, oferecer-nos a melhor prestação masculina até ao momento.

Não deixa de ser irónico o novo título de Hong Sangsoo, Introduction. Neste seu regresso a Berlim, um ano depois de receber o Urso de Prata da pela realização de A Mulher que Fugiu, apresenta um novo filme, fotografado a preto e branco, eventualmente com parte do material rodado até o ano passado durante a sua estada na capital alemã. Introdução é um esboço a preto e branco, ilustrando diversos episódios da vida de pessoas conectadas de uma forma ou de outra. O filme está dividido em vários capítulos e inclui diversos actores da sua trupe.

Introduction
Introduction

Fala-se acerca da acunpultura, bem como da profissão de actor e da sua diferença na representação. Um filme que vem dividido em capítulo, no que parece ser uma tendência do festival, uma vez que vários filmes com estrutura multipartida já foram apresentados em três dias de exibições. Algo semelhante ao cinema com grandes obras musicais como concertos e sinfonias, quando apenas um leitmotiv pode ser preservado em cada novo capítulo. Hong Sangsoo não tem esse leitmotiv. Isso é algo que acontece e existe não em ação ou em diálogos, mas no espaço entre eles, no tecido invisível que o diretor sul-coreano sabe criar.

Além das habituais deambulações de conversas aparentemente banais, ou chá tónico de ervas, e até de uma nova refeição bem regada com soju, o famoso saké coreano, e cerveja, um actor veterano levanta a voz para louvar qualquer contacto íntimo, celebrando sempre a ideia do amor latente. Mesmo sem ser particularmente notável, não deixa de ser mais uma vinheta de um cinema sereno e contemplativo que se entranha.

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