Quinta-feira, Setembro 28, 2023
InícioCinemaEstreiasMosquito: Finalmente temos o nosso Apocalypse Now!

Mosquito: Finalmente temos o nosso Apocalypse Now!

  • Classificação
4

Ultrapassando o lado redutor de uma eventual comparação ao filme de Coppola e, naturalmente, à obra de Conrad que lhe serve de inspiração, ou seja, centrando-nos exclusivamente na relação lusitana com o seu passado colonialista, percebe-se como este improvável confronto da obra do cineasta português João Nuno Pinto com o clássico Apocalypse Now acaba fazer algum sentido. Desde logo porque aqui embrenhamo-nos verdadeiramente na “nossa” própria guerra. Na verdade, este é um filme de guerra, mas em que o combate se trava de razões muito mais profundas. De certa forma, Mosquito é uma picada na nossa memória e do nosso trauma do conflito colonial. E deixa a sua marca.

Já agora, sem sairmos do território de comparações, Mosquito até poderia fazer lembrar-nos a ‘guerra a solo’ do recente e oscarizável 1917, de Sam Mendes, também ele inspirado na memória do avô de João Nuno Pinto. Se bem que a produção de Paulo Branco, curiosamente ambientada no mesmo ano, torne bem mais consistente o desnorte e galhardia do soldado Zacarias, que em vez de ir combater com brio em França, acaba à deriva na savana de Moçambique, a combater mosquitos e alemães, conforme o guião que o realizador partilha com Fernanda Polacow e Gonçalo Waddington. Afinal de contas, um espaço e uma liberdade que permitiu toda a exposição dramática do muito jovem João Nunes Monteiro, curiosamente, um ator com alguma experiência de ‘guerra’, ele que teve ‘uma perninha’ em Cartas da Guerra (2016) e até em Soldado Milhões (2018).

No final das duas horas de projeção deste filme que abriu o festival de Roterdão há cerca de um mês, torna-se inevitável admitir essa proximidade à obra de Joseph Conrad (de resto assumida pelo próprio realizador). Até porque também aqui o tempo se assume como personagem e que domina o iludido e franzino soldado colonizador que “trás a Guerra no pensamento e a Pátria no coração”, forçando-o a lidar com a realidade demencial daquela região que exalta fantasmas até hoje não retratados de forma tão eficaz no cinema português como em Mosquito.

RELATED ARTICLES

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Most Popular

Recent Comments