Quinta-feira, Abril 25, 2024
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Caminhos Magnétykos: Edgar Pêra ensaia o populismo de extrema direita e avisa: o dinheiro não é tudo!

Existirão poucas dúvidas que Edgar Pêra será talvez o cineasta mais inventivo do panorama do cinema português. Mesmo que a ideia de um ‘Godard tuga’ seja algo exagerada, deixa poucas dúvidas a pujança e o poder de experimentação criativo na sua filmografia. Alguns meses depois do calórico e espevitado O Homem-Pycante – Diálogos com Pimenta, recuperando gravações com o ensaísta e escritor anarquista Alberto Pimenta, a ‘distopia realista’ de Caminhos Magnétykos completa o seu acervo criativo contribuindo assim de forma significativa para solidificar um dos melhores anos de melhor produção do cinema português.

Foi precisamente em Coimbra, durante o festival Caminhos do Cinema Português que tomamos conhecimentos desses dois projetos e falámos com o cineasta e elementos da sua equipa. Curiosamente, um regresso a Coimbra e aos ‘Caminhos’, onde Edgar já foi feliz em 2011, ao conquistar os principais prémios com o filme O Barão. 

Trilha agora Caminhos Magnétykos, uma produção de Rodrigo Areias e a Bando à Parte, adaptando uma vez mais um conto de Branquinho da Fonseca, também ele uma voz da modernidade de Coimbra e da procura incessante liberdade, afinal de contas a forma como Pêra encara o seu cinema.

Do conto de Branquinho da Fonseca retira o cineasta o fio narrativo de Raymond (Dominique Pinon), resistente que procura os indícios de uma revolução que esbarra num populismo xenófobo e salazarento. Isto numa altura em que casar a filha (Alba Batista em mais uma prestação a afirmar-se cada vez mais uma referência feminina, depois de a vermos em Leviano  ainda este ano em Patrick, de Gonçalo Waddington, exibido em competição no festival de San Sebastian) com um homem mais velho (Paulo Pires) vive uma noite de aventuras e excessos em que acorda alguns fantasmas do seu próprio povo.

Do cenário argentino original, associa o realizador a realidade lusitana a lidar com os ecos pós revolucionários em que os ideais se ligam com um presente funesto, de guerra civil, dominado por um regime de tiques autoritários. Fazem ainda parte do elenco, Albano Jerónimo (também ele num ano de exceção, e que vimos recentemente em A Herdade), Marina Albuquerque, além de Manuel João Vieira (uma figura central na cultura em permanente revolução), para além de uma saborosa participação do artista brasileiro Ney Matogrosso.

“Eu quis falar de um cenário e de um contexto que imaginei em 2006, em que a extrema direita chega ao poder em Portugal através de uma via democrática, mas em que depois tenta abafar essa mesma via democrática”, define Edgar Pêra na nossa entrevista em Coimbra. Uma realidade que era “inicialmente de ficção científica. Esse era o sub-texto que acaba por se tornar realidade”.

 

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