Quinta-feira, Março 28, 2024
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Curtas no IndieLisboa: entre vícios e decisões

A competição internacional de curta metragens é composta por vários programas. Claro que os programadores tentaram mostrar-nos todas as tendências cinematográficas que atingem o cinema mundial. Assim vimos no IndieLisboa filmes diferentes de vários países, mas todos eles têm reflexões bastante parecidas, como tentativas de fugir da realidade ou medo de tomar decisões. Vamos falar detalhadamente.

 

Vícios

Acid Rain

Começaremos já com uma animação Acid Rainde polaco Tomek Popakul. É uma reflexão sobre dois tipos de vícios. O primeiro é a verdadeira dependência de drogas. O espectador com as personagens do filme faz uma viagem ao mundo cheio de alucinações, o mundo bastante assustador mas ao mesmo tempo atrativo para aqueles que se sentem sozinhos e inúteis. A estética do filme permite-nos pensar em obras sobre zombies que estão a viver a vida depois da morte. Nesse ponto é que começa a narrativa sobre o segundo vício que é uma dependência da dependência. Sempre que as personagens tomam uma decisão voltar para a realidade, eles ficam mais fascinados pelo mundo ácido(embora que seja cansativo), do que pela realidade de qual fugiram.

Swatted

Sobre a tendência de sair da realidade que acaba por ser uma coisa perigosa trata-se e no filme Swatted de Ismaël Joffroy Chandoutis. O realizador pegou nas histórias de gamers, que foram atacados pelo SWAT (Special Weapons Assault Team) durante o processo de jogo. A realidade virtual sai do ecrã e torna-se numa realidade tangível. As confecções das vítimas e os vídeos do Youtube conjunto uma gráfica muito bem feita fazem um efeito forte. Por falar da gráfica, o realizador usando a paisagem real de Califórnia constrói a outra realidade. Milhares de cabos transformam-se nos prédios, nas arvores, nos interiores. Tudo transparente, tudo à vista, tudo muito frágil e em alcanço fácil. Essa abordagem com a sensação de medo silencioso funciona melhor do que funcionavam algumas cenas de ação.

Mas um filme que não ficou longe de jogos é o Operation Jane Walk de Leonhard Müllner e Robin Klengel. Os realizadores decidiramusar o vício de hoje e criar um espécie de walking tour pela cidade de Nova Iorque com a estética de vídeo jogo. Mas o tour não é nada simples: as personagens andam pela cidade apocalíptica. Isso faz o filme ser uma anti-utopia e ao mesmo tempo, como a cidade está vazia, ser uma analise de metrópole só do lado da arquitetura. Assim o vício de gamers pode ser usado no modo de aprendizagem.

O vício menos construtivo ou, é melhor dizer não construtivo, vemos no Foyers de Paul Heintz. A frase “É possível sem parar olhar para agua e para fogo” começa a ter o novo significado. O realizador tenta entrar na cabeça de um pirómano que sonha com fogo e mostrar a beleza de fogo que passa a ser um perigo fascinante. O mundo de ser humanos no filme é muito fragmentado e serve só para comparar o calor do corpo com o pulso de fogo que é uma personagem principal. Depois de ver esse filme, com certeza, vamos de outra maneira olhar para fósforos.

 

Decisões

Mais uma animação Take me Please de Olivér Hegyi fica na transição da zona dos vícios para a zona de decisões. É uma viagem entre a vida e o mundo dos mortos, entre a depressão e a liberdade interna. O desenho não é bonito, como e as duas realidades não são atraentes. Mas o homem tem de tomar uma decisão e escolher um dos dois mundos.

Outro desenho animado Je sors acheter des cigarettes de Osman Cerfon, embora que trate só da realidade bem reconhecida e triste também tem uma espécie de mítica que lança um lado poético. Um rapaz mora com a sua mãe, a sua irmã e com os fantasmas que aparecem aqui ou ali em casa. Pelos vistos é uma história simples, mas no fim ela começa a ser uma coisa melancólica sobre os adolescentes cujo crescimento é muito doloroso por causa da família partida. Nesse momento o rapaz já não fica tão feio. Ele fica uma figura sozinha não conviver, mas combater com os seus fantasmas e os seu medos.

Les Petit Vacances

Como estamos quase no verão, é interessante ver o filme Les petites vacances de Louise Groult. Duas primas vão passar uns dias na praia. Logo que veem, começam umas aventuras. É um daqueles filmes que têm sensações nas pontas dos dedos. A realizadora captou aquilo que é muito difícil captar – uma sensação de esperança, uma sensação de ser não bonita a pé de uma prima/amiga/colega linda e popular. Só que as vezes essa popularidade pode não ter piada nenhuma e pequenas férias em vez de ficar como uma lembrança gira ficam para esquecer. Qualquer maneira todo o filme é sobre decisões que são para tomar e que as vezes ficam conosco para a vida toda.

D’Un Chateau a l’Autre

O filme D’un château l’autre de Emmanuel Marre também é sobre uma decisão bastante importante que fica para a vida. Tudo no filme acontece na altura da companhia eleitoral em França – Emmanule Macron vs Marine Le Pen. Parece que o país todo já escolheu o seu presidente, mas um estudante anda indeciso. Para ele que tem umas dificuldades financeiras, que tem de alugar um quarto em Paris e não faz mínima ideia o que vai fazer no futuro essas eleições são mais do que assinar um boletim e cantar à espera dos resultados. Para ele é uma escolha do futuro. As conversas com a dona da casa onde ele aluga o quarto sobre o passado, sobre a família, sobre literatura e música, os passeios e os pequenos conflitos com ela provavelmente têm de ajudar. Só que as vezes os outros podem tomar as suas decisões que vão afeitar a tua vida destruindo o castelo de areia que começaste a construir. O filme é uma boa infusão de ficção e documentário e um bom olhar (muito íntimo) para a questão das eleições politicas. Na véspera das eleições em Portugal vale a pena ver.

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