Terça-feira, Março 19, 2024
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Glass: Shyamalan anseia por um híbrido de super-heróis mas fica-se pelo estilhaço

M. Night Shyamalan não é propriamente um nome desconhecido das lides do cinema e foi até durante algum tempo merecedor de um certo hype, sobretudo depois do sucesso de O Sexto Sentido. Mas é igualmente verdade que esse estatuto é mais de um has been, pois há muito que os seus filmes prometem muito mais do que devolvem. Por muito que reconheçamos em Night a capacidade de jogar com os géneros e estabelecer links narrativos.

Em Glass, Shyamalan parece ensaiar uma variante de sequela ao mesmo tempo que cria um híbrido entre dois filmes seus. Neste reviralho retoma o carisma visual da personagem camaleónica de James McAvoy em Split/Fragmentado, de 2016, em que o ator assumia nada menos que uma vintena personalidades diferentes, o que por si só fazia dele uma mega personagem. E ‘cozinha-o’ com a recuperação do saudoso O Protegido, de 2000, reivindicando o regresso de Bruce Willis e Samuel L. Jackson.

O que temos então? Pois temos os ‘bonecos’ de James McAvoy, em que se transmuda de personalidade cada vez que se acende um feixe de luzes, como um zapping interpretativo. Um trabalho que acaba por dar mais nas vistas que propriamente a aguentar uma dinâmica narrativa mais coesa. É esse novelo que M. vai recuperar o ambiente sobrenatural de O Protegido, permitindo-lhe explorar uma nova vertente dessa ideia peregrina do que é ser um super-herói. Para dar credibilidade à sua ousadia, coloca as personagens numa unidade de pacientes com perturbações mentais. É na memória do filme do anos 200 que o interesse reside, embora a maioria dos espetadores de hoje não o tenham visto (ou não se lembrem). Aí Willis sobrevivia a um acidente de comboio e passava a revelar poderes inesperados. Do outro lado, Samuel L. Jackson era o homem de ‘vidro’, dada as suas fragilizades físicas. De um lado, um indestrutível, do outro um ser frágil como o vidro.

Nada a dizer dessa ‘engenharia’ criativa, embora não seja geradora hoje dos efeitos mais frescos. Desde logo, porque tudo não passa de uma mera operação de cosmética assente no plot de há duas décadas atrás e no lado performativo de um ator de inesgotáveis recursos como McAvoy. Só que isso não faz dele um super-herói. Por muito palpitate que seja esta receita de combinação de filmes passados (de repente, poderemos pensar nas mais apetecíveis combinações de crossover), o problema é que este híbrido nunca chegou verdadeiramente a assumir o seu próprio DNA. Ou seja, ficando-se apenas pelas suas ‘colagens’. Como um Frankenstein trôpego.

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