Sábado, Abril 20, 2024
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‘Mais um Dia de Vida’ vence melhor animação nos Prémios do Cinema Europeu

A excelente animação documental do espanhol Raúl de la Fuente, autor da curta Minerita, nomeada para o Óscar documental, em 2016, e do multi premiado Nomadak TX (2007), e do polaco Damian Nenow, especialista em efeitos especiais e animação gráfica, é daqueles filmes que não deve passar despercebido. E a distinção de melhor animação nos Prémios do Cinema Europeu, ocorrida em Sevilha no passado dia 15, concretiza precisamente todo o seu valor.

A experiência história do repórter de guerra polaco Ryszard Kapuscinski (morto em 2007) é um dos mais valiosos documentos sobre a guerra civil angolana em pleno período pós revolucionário. Este projeto de animação gerado após uma década de produção teve a sua apresentação mundial este ano no festival de Cannes e já estreou no nosso país.

Numa mistura entre animação e documentário, esta co-produção entre a Polónia, Espanha, Alemanha e Bélgica, embora sem envolvimento direto de Portugal, retrata a vida agitada de Kapuscinski no seguimento da adaptação do livro e a sua experiência traumática, sublinhando a vontade de testemunhar a realidade de Luanda submersa na altura pela expressão ‘confusão’, interesses políticos e violência. Esta é também uma forma de tentar compreender um conflito que depressa superou as fronteiras nacionais e alcançou uma dimensão internacional, onde a C.I.A., as milícias sul africanas e os guerrilheiros cubanos assumiram um papel chave. De certa forma, Kapuscinski foi para Luanda como repórter e regressou como escritor.

O filme brilha precisamente por levar bem mais além a animação e dar-nos essa possibilidade de sentir mais perto a crueza no seu lado mais realista, de certa forma reforçada pelos sumptuosos efeitos visuais que lhe conferem uma inesperada componente onírica e traumática. Nada que disperse a compaixão e o respeito pelo espírito humano em vigor neste conflito, em particular os esforços de personagens reais, como Farrusco, um combatente português das forças especiais ao serviço do MPLA, e da destemida guerrilheira Carlota, nesta reflexão do conflito ocorrido há mais de quatro décadas.

Por certo será inevitável recordar Valsa com Bashir, de Ari Folman, de 2008, na evocação da sua experiência na guerra do Líbano nos anos 80. Ainda que essa proximidade não lhe retire interesse e mérito a esta viagem ao coração das trevas.

 

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