Sexta-feira, Abril 26, 2024
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Veneza 75: teremos Julian Schnabel e László Nemes às portas da eternidade?

Às Portas da Eternidade é o título filme do artista Julian Schnabel com Willem Dafoe no corpo e na pele de Vincent Van Gogh. Mas pode também ser a segunda tentativa do húngaro László Nemes, em Sunset, igualmente em competição para o Leão de Ouro, em dar corpo e forma à obra iniciada com o portentoso O Filho de Saúl, premiado em Cannes em 2015, precisamente no ano em que Audiard ganhou de forma inexplicável com Dheepan, no que parece ter sido um voto de compromisso. Curioso é como todos se encontram este ano em Veneza. Terão abordado o tema?

Em todo o caso, temos dois casos de esforços artísticos. Pena é que Schnabel se tenha tentado em fazer uma espécie de bio do pintor holandês mas que se fica por uma espécie de versão para totós. Pelo menos, é o que temos em boa parte do filme, dificilmente saindo da cartilha de clichés do género, aqui e ali optando por movimentos de câmara bruscos, o uso de lentes desfocadas, etc. Como se assim chegasse mais perto do tal conceito de Arte. A carta na manga fica mais para o fim quando o impecável Dafoe se revela numa versão crística do pintor. Enfim. Poderá ser o rasgo de asa, mas nem por isso chega a voar.

Já em Sunset, Nemes opta pelo cunho autoral e mantém o estilo de Saúl agora numa Hungria nas vésperas da Primeira Guerra Mundial. Aqui seguimos a rapariga que procura o passado da família de uma forma que reconhecemos. A câmara é a sua cúmplice e também quer saber. A diferença é que aqui não há catacumbas nem fornos crematórios. Tudo agora se passa no meio da delicadeza dos tecidos finos de uma chapelaria de classe de Budapeste. Afinal de contas o lado decorativo tão característico daqueles anos galantes em que uma Europa pomposa se preparava para se atirar de peito aberto para um interminável conflito das trincheiras. 

Se pensarmos bem, é também esse elemento de descoberta que o húngaro vai exorcizando a memória dos seus antepassados trespassada por duas guerras. Também por isso dizemos que este Nemes merece ficar também às portas da eternidade.

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