Sexta-feira, Março 29, 2024
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Rampage – Fora de Controlo: o estereótipo reciclado do videojogo para o filme

O efeito XXL tomou conta do cinema. Depois de Batalha do Pacífico: A Revolta  chega com um estrondo Rampage – Fora de Controlo, em mais uma adaptação de um videojogos para o cinema, embora numa emoção de tamanho XS.

Provavelmente, grande parte das crianças e jovens que se dirigirem às salas IMAX ou 3D desconhecerão porventura essa herança em bits e bytes, seguindo o apelo do excesso digital contido em cada frame deste filme dirigido por Brad Peyton, por sinal o timoneiro de San Andreas (o filme claro)?  Tudo explicado, até porque Rampage segue, sim “fora de controlo”, essa deriva de destruição urbana do gorila George, o lagarto Lizzie (embora no filme não nomeado) e o Lobo (Ralph). Sim, em ambos os filmes de Peyton com o protagonismo do respeitado Dwayne “The Rock” Johnson.

Ainda assim, Dwayne consegue quase sempre a proeza de sair intocado mesmo quando o filme tem pouco para oferecer a não ser ação de arrojo visual. Foi assim em San Andreas e é o mesmo agora. Já se sabe que ao assumir o seu lado politicamente correto ‘made in Hollywood’, Rampage – Fora de Controlo perde a oportunidade e a ousadia de ser fiel à ideia original com que os criadores da Midway desenvolveram a ideia para o jogo.

Como se imagina, aqui não se verá um pedestre a sofrer um arranhão, bem ao contrário do delírio virtual em que o nosso avatar se entretinha a engolir criaturas em histeria antes de se converterem em ligeiros ‘power ups’. Só que grande parte do público alvo do filme, os pirralhos dos sete aos 12 anos, será grande parte exímio em produtos virtuais bem mais ousados.

A coisa começa no espaço, numa estação onde algo corre mal. Há estrondo, uma fuga in extremis e as amostras de uma tal experiência que se perdem no vácuo. Acabam por aterrar – onde? adivinhem – no parque natural, onde o tratador com físico de body builder desenvolve uma relação especial com os primatas – na verdade prefere-os aos humanos.

Ele é Davis (Dwayne), o melhor amigo de George, o gorila albino, único sobrevivente de caçadores que converteram as mãos dos seus pais em cinzeiros… Ora, esse gás venenoso libertado da cápsula produz em George o resultado dos cocktails genéticos que uma empresa foi gerando para fins mais ou menos obscuros, mas nada beneficentes.

Enfim, é o que temos. O resto já de adivinha. O bom do George, que até faz uma gracinhas malandrecas por ter aprendido linguagem gestual com Davis, acaba por ficar mauzinho e, o pior, crescer e tornar-se numa réplica loira de King Kong.

Os outros alvos foram o tal lobo, que terá ingerido uma dose igual, e uma espécie de cruzamento de crocodilo com lagarto que seguem hipnotizados à cidade de Chicago. Bom, estão a ver a ideia, não é? Não há spoilers que estraguem o que já nasceu torto. E que começa logo por um guião esquálido e subserviente aos efeitos especiais.

Nessas linhas cria-se também a personagem de Kate (Naomi Harris), uma cientista genética que serve de sidekick a Davis. E há ainda que contar com a personagem ‘colorida’ do agente ‘cowboy’ Russell (Jeffrey Dean Morgan, o ‘comedian’ de Watchmen: Os Guardiães), pois são dele as tiradas destinadas a dar um tom mais airoso a este guião (o ‘culpado’ é Ryan Engle, que nos deu o sofrível The Commuter: O Passageiro, com Liam Neeson, também aqui comentado).

É claro que tudo se prepara para o grand finale com a bicharada em grande ação contra a tropa, no meio de prédios a cair. Sim, quem se lembra ainda do jogo, recordará os monstros a escalar edifícios e em confronto direto com o fogo militar.

Pois é aqui que chegamos perto do tom das várias versões do jogo da Midway. Só que à força de se querer engendrar uma história num prazer lúdico (e até mesmo mórbido!) de destruir uma cidade na pele de uma criatura avantajada, se perde o sentido do entretenimento que se fica por um estereótipo reciclado. Pois é, sabe a pouco.

 

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