Terça-feira, Abril 16, 2024
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LA 92: as sementes da violência racial nos EUA

Têm sido abundantes os documentários lançados a propósito das comemorações dos 25 anos dos tumultos de 1992 que deixaram Los Angeles a ferro e fogo. Para além de LA 92 existe ainda Burn Motherf*ucker Burn Let it Fall: Los Angeles 1982-1992, que já tivemos também oportunidade de ver. No fundo, um grito de revolta da histórica e vergonhosa segregação racial da nação que promoveu a escravatura e foi uma das últimas a prescindir dos seus serviços. Shame on you America!

Material abundante, mas que parte sobretudo desse corpo gigante que é O.J.: Made in America, de Ezra Edelman, o tal documentário de perto de 8 horas que acompanha as ascensões e quedas dessa estranha personagem negra que queria ser branca. Paralelamente, vamos acompanhando a tensão racial criada em ambos os lados da sociedade americana.

No caso de LA 92, do canal da National Geographical, o que importa realçar é, ao contrário de Let It Fall, aqui não foram usadas entrevistas de cabeças falantes, mas antes uma espécie de regresso a esses dias conturbados, unicamente através do acesso a imagens de arquivo e entrevistas televisivas igualmente contemporâneas dos factos. Mesmo que já saibamos que na origem dessa irrupção estão dois episódios de violência racial e as respetivas consequências.

O rastilho foi o espancamento brutal de Rodney King por um grupo de sete ou oito agentes da LAPD, que apenas foi notícia por ter sido captado por um video amador que captou as imagens em vídeo. E ainda o homicídio à queima roupa de jovem igualmente negra de 15 anos Latacha Harlins por uma mulher coreana que achou que a ia roubar.

Como se isso não bastasse, ambos os julgamentos muito mediáticos e all white acabaram por ditar sentenças de “não culpado”, o que acabou por provocar uma ira sem precedentes que motivou uma reciprocidade em violência contra brancos, saques e destruição de centenas de lojas e empresas. A fatura pagou-se com mais de 50 vítimas, milhares de feridos e um bilião de dólares em danos em propriedades. Seja como for, é a força do documento e o efeito do tempo que conferem a LA 92 grande parte da sua força. Uma força que nos leva a refletir no curso da História daquela que se considera a nação mais avançada do mundo. Não será certamente.

A questão que se coloca é se, vinte e cinco anos depois, alguém aprendeu alguma coisa com o sucedido? Poderia até dizer-se em diversos níveis, as coisas estarão ainda pior, mas isso é outra conversa.

LA 92 é um dos candidatos ao óscar de Melhor Documentário.

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