Sexta-feira, Abril 19, 2024
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LEFFEST: Corpo e Alma – no sonho tudo é perfeito

(esta é a reprodução da crítica publicada no dia 11 de fevereiro, primeiro dia do festival e Berlim 2017)

Parece haver mais do que um filme em On Body and Soul, a bela surpresa da cineasta húngara Ildikó Enyedi que nos intriga, surpreende e deslumbra com a mais insólita história de amor que recordamos, aqui paredes meias com a dignidade animal. Talvez a sua formação em arte e media conceptual tenha ajudado à montagem complexa, mas ao mesmo tempo fluída desta história que aflora diferentes narrativas. É um filme feito de pequenos gestos, olhares, mas também uma comunicação onde o onírico se cruza com a realidade da forma mais inesperada e um romance acontece num mundo quase virtual. Tudo isto num meticuloso trabalho de composição e trabalho de câmara. Podemos estar no início do festival, mas este ‘corpo e alma’ fica já pré-selecionado para prémios.

Sim, temos de falar da história, a tal narrativa sinuosa que mistura e combina homens e os bovinos de um matadouro, um microcosmos onde o sangue a jorros convive com um lado bem mais assético, onde a pulsões animais são confrontadas com inibições e emoções por explorar. Há ainda um cenário idílico natural, de um bosque gelado com um lado onde um casal de veados se encontra e tem uma história para contar. É essa a história de um homem e uma mulher solitários que se encontram apenas num sonho que partilham em comum. É isso o corpo e a alma.

A pacatez de um matadouro em Budapeste será abalada com a chegada de uma taciturna e ultra-rigorosa diretora de qualidade que aplica as regras by the book. Aliás, com Mariá, numa notável composição de Alexandra Borbély, tudo é medido com rigor, até porque o seu cérebro prodigioso regista tudo como se fosse uma máquina. Ele é Endre (o estreante Morcsányi Géza), diretor financeiro e gerente do matadouro, com um braço paralisado que se interessa discretamente pela tímida Mariá.

Nesta cuidadosa auscultação dos sentimentos e instintos mais humanos ou animais, nota-se um tricotar de guião que nos ilude sempre que tentamos antecipar o rumo das personagens. Isto até um climax final que nos atravessa e nos rende ao tema musical de Laura Marlin.  On Body and Soul merece ser partilhado por um público fora dos festivais. Esperamos apenas que o filme venha a ser adquirido por uma das nossas distribuidoras.

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