Sexta-feira, Abril 19, 2024
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Joseph Losey em San Sebastian: um americano exilado em Inglaterra

As retrospectivas de cinema clássico em San Sebastian tornaram-se num verdadeiro must. Por Donostia passaram já em revista muitas filmografias de realizadores que deixaram a sua marca. Não só por muitos deles serem desconhecidos de um público mais afastado das cinematecas, como também por trazerem um conjunto de obras de enorme relevância.

Em comum com San Sebastian terão nomes como Robert Siodmak, James Whale, William Dieterle, William A. Wellman, Gregory La Cava, Tod Browning, Mitchell Leisen, Mikio Naruse, John M. Stahl, Carol Reed, Frank Borzage, Michael Powell, Preston Sturges, Anthony Mann, Robert Wise, Ernst Lubitsch, Henry King, Mario Monicelli, Richard Brooks, Don Siegel, Jacques Demy, George Franju, Nagisa Oshima, Dorothy Arzner, Merian C. Cooper & Ernest B. Schoedsack e Jacques Becker.

O Criado

Para a 65ª edição, o festival e o Arquivo de Cinema Espanhol dedica a retrospetiva ao cineasta americano que foi forçado a fazer carreira no Reino Unido. Durante os anos 70, Losey conseguiu impor-se como um dos expoentes do cinema de autor, sobretudo a partir de obras como O Criado (1963), King and Country (1964), Acidente (1967) e O Mensageiro (1971), com a particularidade de quase todas, excepto King and Country, terem sido escritas por Harold Pinter.

Só que antes de Losey ter essa fama na Europa, afirmou-se com algumas curtas até a sua longa de estreia, O Rapaz dos Cabelos Verdes, em 1948, antes de ver a sua vida afetada pela caça às bruxas que entretanto começava a grassar em Hollywood desde o ano anterior. O que o levou a assinar por diversas vezes sob pseudónio durante os primeiros anos da década de 50.

Já na Grã-Bretanha acabaria por alcançar o merecido sucesso durante os anos 60 e 70, até enveredar pelo trabalho de palco em diversas produções europeias.

O Mensageiro

Joseph Losey nasceu em La Crosse, no Wisconsin, em 1909. Começou por se interessar pelo jornalismo, acabando por se decidir pelo teatro. Sendo uma mente abertamente de esquerda, acabou por cruzar o seu destino com o de  Bertold Brecht, com quem trabalhou em diversas produções, antes de passar uma temporada na União Soviética a estudar. Isto até começar a fazer as suas primeiras curtas para a Metro Goldwyn Mayer e a sua estreia no longo formato, um filme declaradamente anti-guerra e totalitarismo, já pela RKO.

Haveria ainda de trabalhar com alguns argumentistas já na lista negra, como Daniel Mainwaring, Dalton Trumbo e Ring Lardner Jr., até o seu nome aparecer também listado nas actividades anti-americanas. Só que quando foi chamado a depois em tribunal, encontrava-se e filmar em Itália Stranger on the Prowl / Imbarco a mezzanotte (1952), e acabou por já não regressar ao seu Paris acabando por se ficar em Inglaterra. Mesmo aí decidiu adoptar um o pseudónimo para os seus primeiros dois filmes fora dos EUA: The Sleeping Tiger (1954), na primeira colaboração com Dirk Bogarde, e em The Intimate Stranger (1956).

Felizmente, Losey haveria de beneficiar do boom do cinema social britânico, bem como até das produções da Hammer, para quem haveria também de trabalhar de forma efémera. Durante a década de 70, Losey haveria de produzir algum do seu melhor trabalho, como O Criado, Acidente, O Mensageiro (Palma de Ouro em Cannes) e King and Country. Losey fez ainda alguns filmes de perfil abstrato e político, bem como um retorno a Brecht (Galileo). O seu último filme foi Steaming, em 1985, muito inspirado pelo teatro, com Vanessa Redgrave e Sarah Miles, ambientado em banhos turcos em Londres. Infelizmente, nunca acabou de ver o filme pois morreria antes da apresentação no festival de Cannes.

 

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