Sexta-feira, Abril 26, 2024
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Paterson: Jarmusch concebe um maravilhoso filme haiku

Jim Jarmusch regressou ao um tipo de cinema mais contido, mais alinhado com as suas primeiras obras, naquele que será o exemplo mais acabado de um filme-poema. Expliquemo-nos. Paterson abre com as primeiras estrofes de um poema de William Carlos Williams, sobre a poesia e a vida. É assim que conhecemos Paterson (Adam Driver), um motorista de autocarro que vive com a meticulosa mulher Laura (Golshifteh Farahani).

A sua vida está organizada de forma a que vivam com pouco. Enquanto Paterson se assume então como ‘Driver’ (a escolha de Adam também não parece ter sido casual) no seu giro pela cidade de Paterson, Laura faz cupcakes em casa que venderá. Ao regressar a casa, Paterson passeia o cão Marvin e aproveitando ainda para passar pelo bar local e beber um copo e dar duas de conversa com os amigos. A sua vida é agradável e sem surpresas.

Assim é também o cinema de Jarmusch, conciso, contido, como os poemas de Paterson. No fundo, como as formas circulares das cortinas pretas e brancas de Laura, e dos seus bolos também com essa forma e tons. Quando Peterson interpela uma garota que escreve um poema, percebemos que essa narrativa já começara antes e está a cumprir-se nesse momento no acerto do guião e na contenção de tudo.

Por fim, Paterson, que vive em Paterson até encontra um estranho oriental que lhe oferece um livro, onde irá nascer a história de Paterson. É então esta circularidade que nos cativa, bem como a simplicidade de um anagrama. Ou a verdade contida num moderno poema haiku. Por isso, Paterson, não é um filme. É um maravilhoso poema.

“I started to make trips to the area. I walked around the streets; I went on Sundays in summer when the people were using the park, and I listened to their conversation as much as I could. I saw whatever they did, and made it part of the poem.”

Paterson foi um dos melhores filmes em Cannes o ano passado, injustamente esquecido por um júri acéfalo.

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