Sexta-feira, Abril 26, 2024
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American Honey: Andrea Arnold filma os Estados Unidos da era Trump

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Em American Honey, a britânica Andrea Arnold capta uma imagem dos Estados Unidos como se estivesse em Inglaterra. Nada que tenha a ver com a paisagem – e ela é tão forte neste filme -, já se vê, mas em captar aquela angst que parece atingir uma enorme faixa etária dos adolescentes (e não só), desenraizados, desinformados, desencantados, desanimados. Visto agora, o filme até parece uma espécie de wake up call para o que aí viria, ou seja, para dar expressão a muitos daqueles que votaram em Trump, como forma de embalar numa espécie de quimera. Mesmo que muitos deles não acreditem no seu desiderato.

O que ela fez foi embarcar com um punhado de miúdos num longo road trip pela estrada fora (o filme tem mais de duas horas e meia), cruzando a América populista e dos desempregados, empurrando Shia Labeouf o papel de um guia que dinamiza o grupo a vender revistas especializadas porta a porta e a navegar horas e horas numa carrinha a ouvir hip-hop e a ser adolescentes na América que vibram com Rihanna a cantar we found love in a hopeless place… Se bem que seja Sasha Lane, até agora uma atriz amadora, a dominar a ação com o deu desencanto provocatório.

Se pensarmos bem, é precisamente isso o que ela tem feito ao longo da sua filmografia – mostrar jovens no turbilhão da vida, normalmente sem grandes esperanças. Seja a jovem que segue as câmaras de vigilância em Sinal de Alerta, na sua estreiam em 2006, ou a jovem agressiva de Aquário, afinal de contas a mesma ansiedade realista vivida por Heathcliff, na sua versão de O Monte dos Vendavais. É assim que American Honey assume a mesma procura de honestidade destas personagens à procura de si mesmas ou de um futuro que desconhecem.

Pode ser um olhar incómodo ao sonho que levou Jack Kerouac a redescobrir a América no impulso de sonho beatnic. Sim, aqui o sonho já faz parte da lenda. É o que temos. É a América da emergência, a América do populismo barato, a América de Trump. 

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