Sexta-feira, Abril 26, 2024
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Made in Bangladesh: o grito sindical das costureiras que fazem a nossa roupa

Mesmo quando não consegue evitar alguma ingenuidade, Made in Bangladesh, o empenhado drama social da ativista e feminista Rubaiyat Hossain, também autora do guião, deixa bem clara a sugestão de que deveremos ver um pouco para além do apelo da marca na etiqueta.
A certa altura no filme, uma ativista de direitos humanos esclarece a jovem Shimu que o salário dela é pago pelo valor de duas ou três t-shirts vendidas nos mercados internacionais. Ou seja, iguais às que compramos na Zara, H&M, Primark ou outra loja que nos dias de hoje sofre com as enchentes da quadra. Quantas destas produzes por dia?, pergunta-lhe ainda. A resposta é 1650 unidades.

Essa resposta, ou essa métrica, acaba também por vincar bem a ideia das diferenças existentes em matéria de justiça laboral entre os países proprietários das grandes marcas de pronto-a-vestir que deslocalizaram a sua produção (e os consequentes índices de poluição) para o Bangladesh ou a China. Por outro lado, sublinham também a enorme diferença existente em matéria de Direitos Humanos, onde a própria constituição de um sindicato lhes é dificultado. Sim, Made in Bangladesh é um filme sobre isto tudo.

Quando chegamos ao pré-genérico do filme já conhecemos as paupérrimas condições de trabalho do exército costureiras de Daca bem como os perigos das catástrofes ocorridas ali mesmo, na capital, nas fábricas Tazreen Fashion (em 2012) e Rana Plaza (2013) que provocaram milhares de mortos. É precisamente depois da notícia do desaparecimento de uma colega que Shimu (Rikita Nandini Shimu) decide tomar como sua a voz da sua classe e tentar criar um sindicato que as represente, depois dos esclarecimentos que lhe presta a ativista feminista Nasima Apa (Shahana Goswami). No meio deste dilema de trabalhar para sobreviver, mesmo frequentemente pernoitando no local de trabalho, algumas jovens acabam por ceder à alternativa do casamento com homens bem mais velhos (algumas delas com 13-14 anos de idade).

Ao longo deste percurso incerto e perigoso, vão sendo também desmontados os ditames de uma sociedade patriarcal, onde às mulheres pouco mais resta do que a submissão a escravidão, bem como uma administração habituada a viver em corrupção.

Não deixa de ser louvável que este filme (co-produzido pela Midas Filmes) esteja em exibição nas salas durante o dia Internacional dos Direitos Humanos. De resto, a realizadora Rubaiyat Hossain veio a Lisboa, no passado dia 30 de novembro, para uma antestreia no Cinema Ideal, no âmbito da Fair Friday, o dia imediatamente a seguir à Black Friday, um movimento cultural focado em causas sociais.

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