Terça-feira, Abril 16, 2024
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Drones e política no IndieLisboa

Foram apresentados dois programas de curta metragens na seção competição Silvestre do IndieLisboa: Efabulações Intrigas  Internacionais. Os dois mostram uma diversidade do mundo das curtas e ao mesmo tempo alguns traços que unem os realizadores. Os dois programas vão ser apresentadas mais uma vez. Vale a pena ver.

Efabulações

Quatro filmes bastante diferentes que existem na fronteira de gêneros cinematográficos. O primeiro filme, Fettknölende, dos suecos Jane Magnusson, de quem já publicamos aqui uma entrevista a propósito do seu recente documentário sobre Bergman, e Liv Strömqvist, é uma ironia pitoresca sobre o furúnculo na cara de Ingmar Bergman, sob a forma de uma fantasia corajosa que permite não olhar para o realizador sueco como para uma espécie de ícone, mas conhecer o lado menos atrativo dele – o egoísmo, o machismo e a auto-percepção como grande cineasta. E não deixa de ser curioso como todos os enquadramentos do filme imitam o estilo de próprio Bergman refletindo o seu trabalho e a sua vida.

O filme Extra-Terrestrial-Ecologies (Retroflectors: the astronaut, the robot, the alien) de austríaco Ralo Mayer assenta no sonho humano de espaço e sobre as tentativas de criar um mundo diferente no cinema e na realidade. Trata-se de um trabalho muito subtil de montagem que conjuga fragmentos dos vários filmes e arquivos na criação de uma narrativa poética. No fundo, uma reflexão filosófica que nos deixa pensar e analisar o nosso passado, presente e futuro.

A ideia da subtileza continua e no filme Menuet, dos belgas Nicolas Deschuyteneer e Patricia Gélise, no fundo, um capítulo de uma longa metragem, embora o capítulo exista de forma independente. A analisar o filme é importante saber a ideia da dança francesa minuete. É uma dança de pequenos passos e de movimentos quase não notáveis. É isso que nos mostram os realizadores embrulhando os gestos da dança na forma de thriller ou road-movie. Tudo foi filmado com a câmara de 16mm. Isso cria uma sensação certa para a história. Além disso, é muito subtil o trabalho com a música, o espaço e tempo e, em fim, as tecnologias.

No mundo sem algumas marcas temporais de repente aparecem dois drones: por um lado, eles transportam o espectador para a dimensão de um realismo fantástico e, por outro, fazem uma ligação perfeita com o filme anterior de Ralo Mayer.

A animação Wong Ping’s Fables 1, de Wong Ping, é o trabalho mais experimental e mais difícil de perceber deste bloco. O que se torna claro é que o realizador fala ironicamente sobre o mundo dos jogos de computador, que penetrou na nossa realidade e começou a fazer parte dela. Além disso, o filme funciona bem como poesia áudio visual. Só que a forma pode não chegar ao espectador.

Intrigas Internacionais

Esse programa é para quem tem interesse em politica. Os três  documentários e uma animação com as linguagens diferentes no fundo falam das mesmas coisas – de direitos humanos e de liberdade.

I Signed the Petition, de Mahdi Fleifel, é um dialogo entre o realizador e o seu advogado sobre as consequências que pode provocar uma assinatura. Esse dialogo bastante vivo e cheio de humor em conjunto com a imagem torna-se numa coisa quase trágica sobre a vida no Médio Oriente.

O tema continua em Cairo Affaire, de argentino Mauro Andrizzi. Esses dois filmes são muito ligados e através de objeto e através da forma. As imagens estão à parte daquilo que se diz, mas ao mesmo tempo acrescentam tudo que é dito e lançam uma sensação de medo frio. Andrizzi reforça essa sensação negando a voz off e pondo as legendas. Assim as palavras não têm sotaque, acentos e gênero da voz. E mesmo assim o filme é mais assustador e transmite melhor a realidade sufocante e perigosa.

Única animação nesse bloco é o filme chinês A Fly in the Restaurant de Xi Chen e Xu An. É um ponto de vista da mosca que voa dentro do restaurante e vê os clientes a comer, a ler, a brincar e vê também algumas partes de fora, onde acontece uma revolução. O restaurante torna-se metáfora da vida, onde quase tudo se repete, onde as pessoas vão e veem, onde os problemas quotidianas sempre vão coexistir com as revoluções e as outras perturbações políticas.

O filme chinês correlaciona com o filme russo Our Africa de Alexander Markov. É uma montagem de arquivos feitos nos países africanos durante varias décadas dos anos 60 até o fim dos anos 80. Claro que todos os arquivos oficiais são uma coisa feita na câmara que está muito longe da verdade. No entanto, através da montagem o realizador conseguiu criar o filme bastante crítico. O filme mostra a altura da pós-colonização com a influência soviética que não se chama “colonização”, mas que no fundo é mesma coisa. Com as danças e canções infinitas, com os abraços abertos e a paixão da União Soviética traz primeiro para a África os camiões e os sementes, mas depois as armas e as caixas cheias de balas. As reportagens antigas que mostravam só as ideias de alegria e de amizade, serviram para mostrar a outra faceta cujos sorrisos assustam e mostram que a história sempre se repete. Vale a pena ver e analisar

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