Terça-feira, Março 19, 2024
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CCP: Bruno de Almeida recria a nostalgia de Nova Iorque no ‘Cabaret Maxime’ do Cais do Sodré

Dia 4. Quando Ana Padrão ser revelou uma verdadeira Aparição no Cabaret Maxime de Bruno de Almeida.

Outro momento alto nos Caminhos do Cinema Português com a passagem de Cabaret Maxime, na homenagem nostálgica de Bruno de Almeida ao ambiente viscoso de Nova Iorque, aos bons malandros dos filmes de Scorsese. E ainda uma Ana Padrão a fazer-nos recordar com saudade Gina Rowlands e Michael Imperioli na réplica alternativa de Cassavetes.

Em Cabaret Maxime opera-se o prodígio de termos uma Nova Iorque com o suor e a lástima dos anos 70, metida na pink street de um Cais do Sodré lisboeta habitado por personagens da série Os Sopranos. Pode até parecer uma espécie de Rossio na Rua da Betesga, mas sem qualquer sombra de pecado ou aniquilamento da coisa. Até porque ali milita também o pulsar (a homenagem) do que outrora foi o ‘verdadeiro’ Cabaret Maxime, aquele à Praça da Alegria, hoje transformado num boutique hotel, ainda que com direito a momentos mais titilantes.

O que passou também para o lado da eternidade, leia-se filme, foi Manuel João Vieira, a transportar para o filme retro de Bruno de Almeida o mesmo estilo gingão no gatilho da sua guitarra e prosa de corsário. Isso e a serenidade de Michael Imperioli, amigo de longa data de Bruno, e, claro, a máxima classe de Ana Padrão, com direito a inscrição de diva maior do cinema português a cantar All of Me. Difícil não var na cena de ultra maquilhagem o rosto de Gena Rowlands, no sublime Opening Night, do Cassavetes.

Cabaret Maxime é assim um filme sobre um tempo que já passou, mas igualmente sobre algo demodé que não merece ser perdido, como os tais valores que perduram no tempo. Por tudo isso, mas também por aquela cor escarlate num filmes português a fazer de holograma novaiorquino, mas sempre com o respeito pelo original, pelo musical. E pelos Sopranos.

Revimos ainda Aparição, de Fernando Vendrell, o filme português vencedor do último Fantasporto, na adaptação possível da obra maior de Vergílio Ferreira. Jaime Freitas compõe um acertado Alberto, dividido entre entre o dever de espevitar os alunos a procurar o seu carpe diem ao mesmo tempo que procura encontrar-se a si próprio. Nesse sentido, Victória Guerra serve do vibrante elemento feminino que devolve força ao filme.

Passou também Dois Irmãos, de Francisco Manso, na produção de José Mazeda, recuperando uma história mítica sobre o rigor brutal da honra no lado mais conservador da sociedade local. Apesar de alguma ingenuidade do cast de amadores, sobretudo com a excepção do protagonista Flávio Hamilton, ator caboverdeano com carreira no teatro no Porto, esta é tambem uma prova dos caminhos do cinema em português que há ainda para explorar.

Ainda o destaque à curta Maria, de Catarina Neves Ricci a partir de uma ideia de Pandora da Cunha Telles, da Ukbar, sobre o realismo tocante de uma prostituta sexagenária portuense. Ricci mostra-se à vontade em apresentar-nos um retrato acertado desta Maria “cheia de graça”.

Já em Pródigo, João Lourenço evoca o momento bucólico em que um filho se junta ao pai, mas apenas para nos retirar o tapete debaixo dos pés e confrontar-nos com uma provocação. Sim, percebe-se que o cinema caminha pelo CCP.

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