Quinta-feira, Março 28, 2024
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Paul Greengrass: “A Netflix é a plataforma perfeita para este filme”

Paul Greengrass falou ao Insider sobre a relevância deste projeto e a forma como completa o seu olhar sobre a Globalização. E não hesita sequer quando o questionamos sobre a utilidade do canal de divulgação que escolheu para 22 de Julho, o filme que teve estreia mundial em Veneza e que acaba de chegar à plataforma Netflix.

Insider – Este filme parece ter um contexto que supera mesmo os acontecimentos deste dia, não acha?

Paul Greengrass – Sim. Eu estou mito preocupado. Por duas razões, que são ambas responsáveis pela globalização. A Globalização levou-nos ao crash de 2008 e deu-nos economias paradas ou quase sem crescimento; e deu-nos também insegurança. Para além disso, temos os problemas de população, de emigração. E também o medo da emigração. Essas duas coisas têm motivado esta mudança sem precedentes para a direita, o reavivar no nacionalismo, do populismo. No nativismo, do tribalismo. Temos visto isso, em todo o mundo. Dos EUA a África. Isto é algo sem precedentes, pelo menos na minha vida.

E o recrudescer dos movimentos de extrema-direita…

Incubado nisso está esse lado negro do extremismo anti-democrático, o perigo da extrema direita. É uma dinâmica que vemos crescer pelo Ocidente. Na Suécia, na Alemanha, no Reino Unido, Polónia, Hungria, nos Estados Unidos, com Charlotsville. Existem tantos exemplos, é só ir online. É um fogo que está a arder. Nós, especialmente os mais novos, teremos de lutar pelas suas democracias. Mas temos de ganhar no nível das ideias. Um dos problemas da história da Noruega é que eles lutam com esta ameaça, em muitos níveis.

Você é inglês e fez um filme em língua inglesa, mas usou atores noruegueses… Não pensou fazer de outra forma?

De facto, o filme tem uma alma norueguesa. Mas como não falo norueguês, para mim teria sido impossível fazer o filme em norueguês. Apesar de ser um filme sobre a Noruega, sobre eles, é também um filme sobre o que acontece hoje e sobre o que acontece amanhã. Por isso, percebi que só fazia sentido fazer um filme em inglês. Até porque é uma sociedade bilingue. Por isso percebi que teria de ir sozinho e fazer o filme com uma equipa local e com atores locais.

Como trabalhou com os atores neste registo mais próximo do documental?

O meu estilo é o meu estilo.

Deixando talvez a subjetividade para trás…

Não sei o que quer dizer com subjetividade, mas digamos que fiz o filme de uma forma desapaixonada, mas em certas alturas com compaixão. Do meu ponto de vista, da forma correta. Ou seja, pedindo autorização para fazer um filme sobre estas famílias. Encontrando-me com elas, consultá-las. Mas com o respeito e dignidade que merecem. De forma verdadeira, procurando perceber quais seriam os seus sentimentos nessas situações.

22 de Julho

Sentiu que o lado documental tinha de fazer parte?

Quando se fazem filmes como Voo 93, o Domingo Sangrento ou este temos de tentar contar a verdade como a vemos. E não juntar os pedaços para cumprir uma agenda política. Isso é propaganda. A ideia é olhar para um momento de uma forma lúcida e sem compromisso. Acho que foi isso que tentei fazer neste filme. Se resulta ou não é para vocês dizerem.

Quais foram para si os momentos mais relevantes do filme? Quando estamos a viver a cena na ilha ou com os pais já depois da tragédia?

É difícil selecionar um aspeto. Quando fazemos um filme como este não entramos de forma fácil. Esta é a forma como vejo o mundo. Sou um realizador. Acredito no cinema e acho que o cinema pode fazer muitas coisas. O cinema tem uma missão de entreter. Mas não é a sua única missão. É uma forma de arte. Mas também acho que é uma forma de espelhar o que se passa no mundo. Para nos permitir olhar com coragem sobre o que se passa. É muito importante que o cinema faça isso.

Acha que a Netflix é a plataforma ideal para este filme?

A Netflix é a plataforma perfeita, a plataforma perfeita. Porquê? Por duas razões. Antes de mais foi importante para mim e para aquelas famílias que esta história fosses contada de uma forma ampla. É importante que este tema chegue a muitas pessoas. Mas é claro que poderia ter feito este filme com uma pequena produtora arthouse. É claro que você o iria ver num qualquer festival, mas alcançaria um público muito menor. E em particular alcançaria muitos poucos jovens, que raramente vão a salas arthouse. E estes filmes são feitos porque empresas com o a Netflix criam condições para que existam.

Diria que é um filme a pensar mais nos jovens?

Isso é verdade, mas não só. O filme irá atingir uma larga audiência de jovens que o verão na plataforma Netflix. Eu já trabalhei para muitos estúdios diferentes. Mas a Netflix tem sido fantástica. Apoiou-me a 100%, interessou-se muito pelo projeto e mostrou muito respeito por este filme e pelas pessoas que representa. Falando de um ponto de vista pessoal, acho que fizeram um trabalho fantástico. No entanto, o filme será visto por pessoas da minha idade, que o verão numa sala arthouse, e irão apreciar o filme numa sala de cinema, algo que é importante para mim como cineasta; mas quero também que os meus filmes vivam no mundo real. E quero que este filme chegue a muitas pessoas, porque este tema é demasiado importante.

 

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