Quinta-feira, Abril 25, 2024
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‘Sara’: Beatriz Batarda é uma mulher sob influência na série de Marco Martins

“Foi-me dada a oportunidade de me rir

de mim própria” 

Beatriz Batarda

Não estreia em sala, passa na televisão. É já a partir do próximo dia 7 de outubro, na RTP2, que srá exibida Sara, a série de Marco Martins que poderá ter o condão de reconciliar muito boa gente com o pequeno ecrã. Embora, a estreia destes dois primeiros episódios aconteceu mesmo no IndieLisboa, que pela primeira vez exibiu uma série de televisão. Este foi o resultado da parceria criativa durante vários meses entre o cineasta e Ricardo Adolfo a partir de uma ideia original de Bruno Nogueira. Inicialmente, feita a pensar no Canal 1, embora depois de uma “grande resistência do canal”, como confirma o realizador, acabou por seguir mesmo para a 2. Ainda assim, uma tentadora proposta televisiva para quem… não vê televisão.

Apesar do formato para o pequeno ecrã percebe-se que por trás está a produção robusta da Ministério dos Filmes, a produtora de Marco Martins, que conta ainda com um elenco de luxo, além de Beatriz Batarda, ainda com Nuno Lopes, Rita Blanco, José Raposo, Miguel Guilherme ou Albano Jerónimo.

Escusado será dizer que ficámos rendidos com a potência narrativa desta atriz que perdeu a capacidade de ser credível e, sobretudo, de chorar diante a câmara. É esse o desafio que percorre a atriz Beatriz Batarda no papel da protagonista que aflora essa dimensão mefistofélica de trocar a densidade do cinema de autor pela leveza lucrativa da telenovela. Pelo meio, percebemos a sátira e a reflexão que se vai tecendo sobre o audioviosual em geral, e o meio do teatro, do cinema, da televisão, em pormenor. Sem esquecer, claro está, as redes sociais. Assim prolonga Marco Martin o seu trabalho orgânico sobre o trabalho do ator. O tal ator que se questiona ao esmo tempo que encara a sua própria obra. Sim, vimos os dois primeiros episódios de Sara e ficámos fãs desta mulher a viver, afnal de contas, uma crise universal.

Estado de graça

Merda, merda, merda… Assim começa a atriz Sara a maldizer a sua sorte de não conseguir atingir o ponto de emoção de uma cena de rodagem num filme de época. É que na cena em que deve chorar não consegue. Nada a fazer. Não é o writers block doa argumentistas, mas uma tear block. Durante esta secura, Sara, numa riquíssima prestação de Beatriz Batarda, a apreciar as diferentes tonalidades e complexidades da personagem, vai encarando outros desafios, num delicado exercício em que a comédia relativiza sempre o drama.

Na verdade, não tinha grande vontade de fazetr televisão, confessa-nos Marco Martins com um ar levemente trocista, durante a nossa conversa no Cinema Ideal logo após a sessão de imprensa. Até porque considera que é raro ver-se algo interesante na ficção portuguesa. Mas quando o Bruno Nogueira o convidou e apresentou a ideia de Sara, gostei logo do lado meta-discursivo de falar sobre o media, sobre o próprio meio. Para além disso, sentiu a curiosidade de testar o formato e ver até onde poderia ir.

A ideia casava com a proposta inicial de Bruno Nogueira, já que o préprio confessa que lhe apetecia pensar para lá o óbvio, sobre o que é o cinema de hoje em dia,  o que é a televisão, o teatro e publicidade. No fundo, um prolongamento do que fez na série Odisseia,  a aqui a glosar a ideia de todos sobre os meios e juntar isso tudo para fazer algo que fosse fiel à nossa maneira de pensar em 2018. Nogueira também entra. Cabe-lhe o papel do guru espiritual que sondará as energias de Sara. Sim, um humor também está garantido. Aifnal de contas, trata-se de uma comédia, dramática, bem entendido. E assim define: esta é, por assim dizer, uma capsula do tempo. Uma tese de mestrado sobre aquilo que são os preconceitos, as frases feitas quase tudo encapsulado nesta série.

Marco Martins haverá de confirmar que apenas fez esta série feita como uma continuidade do seu trabalho em cinema e no teatro. Com os atores é um trabalho muito meta-discursivo, diz. Algo pós dramático. em que há um areflexão sobre a própria representação. Um trabalho muito bem prececionado pelo Bruno e pela Beatriz.

No entanto, vai avisando, esta não é uma série que fecha nos atores, mas muito mais nos espetadores deste meio, do teatro e televisão, das redes sociais. Isto numa altura perigosa em que vinga o ‘clic bait’, em tudo o que recebemos como informação achamos que é verdade.

Apesar das tentações de ‘colagem’ do registo à verdadeira atriz, Beatriz Batarda não se revê nesta Sara, pois acha que tem muito pouco da Beatriz. Segundo ela, tem mais a ver com a forma como construo personagens. Até porque confessa o prazer de construir contradições. Na verdade, vario muito pouco, admite. O principo é sempre o mesmo. Ou seja, introduzir o erro, a fragilidade. É isso que me interessa, é essa a minha urgência enquanto atriz. 

Agora depois de fazer Sara, Beatriz Batarda sente-se mais leve. Não por ter ido para a novela, mas por ter feito esta série. Foi-me dada a oportunidade de me poder rir de mim própria. Ou pelo menos da imagem construída sobre a minha pessoa, completa. Porque a imagem não sou eu. Rir-me em torno da minha figura, não direi pública, porque não sou assim tão conhecida. Mas, pronto, dentro do meu bairro, diz a rir…

‘Sara’, estreia dia 7 da RTP 2

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