Quinta-feira, Março 28, 2024
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Ruben Ostlund: “Se vou a uma cerimónia de prémios é para ganhar”

Ruben Ostlund é um homem radiante, seguramente a viver momentos altos na sua vida, como que preso num choque permanente de adrenalina. Pelo menos, assim é desde que venceu a Palma de Ouro em maio passado.  Provavelmente, quando o encontrámos em Berlim, suspeitaria que algo de bom estaria para acontecer na noite dos prémios do cinema europeu, embora fosse difícil de prever o alcance dessa noite de glória.

Foi já no final da nossa entrevista, sempre em ritmo de gargalhada, quando lhe pedimos um minutinho para um clip de video, que todo esse otimismo transpareceu para um antecipação do que realmente sucedeu no dia seguinte com a consagração de O Quadrado, essa sátira ao mundo da arte contemporânea, ao vencer os seis prémios para os quais estava nomeado.

Uma boa conversa, em que Ostlund revela já vários aspetos do seu novo projeto, Triangle of Sadness, sobre o conceito de beleza. Mas garantiu que não iria fazer uma trilogia sobre formas geométricas…

Não deixa de ser interessante estar nomeado para o Melhor Filme e Melhor Comédia…

Sim, é algo inesperado, apesar do filme ter ganho a melhor comédia nos EUA. Concordo que o filme é muito divertido, mas diria que se trata talvez mais de uma sátira do que uma comédia. Mas espero ganhar ambos os prémios…

Sentiu que na transição de Força Maior (2014) para O Quadrado iria também abordar o sentido de humor escandinavo e agitá-lo?

Exatamente. Depois de acabar Força Maior disse que iria tirar uma férias dos contos folclóricos. No entanto, a aproximação é semelhante. Talvez por viver na Suécia, acabo por picar coisas que vejo e abordá-las de um ponto de vista sueco.

Como explica o sucesso do filme em toda a Europa e também no mundo?

Acho que a aproximação nem é bem pela comédia. Nos meus filmes as pessoas não ficam completamente seguras se deverão rir ou ficar sérias. Mas o que gosto é quando as situações são levadas a um ponto em que as pessoas acabam mesmo por rir. Até porque pode existir um outro momento em que se percebe que não podemos rir-nos.

O filme tem sido muito bem recebido em todo o mundo. Acha que tem possibilidade de chegar à corrida ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro?

Não sei. Espero que sim. Os americanos têm tantas sensibilidade para a dramaturgia que acho que agora querem mesmo levar-me ao topo (risos).

Já que parece ser uma pessoa competitiva, o que acha dos seus concorrentes?  

Claro que quero ganhar. Se vou para uma cerimónia de prémios quero ganhar. Na última vez, lembro-me que o filme Ida acabou por vencer tudo. Nós tinhamos três nomeações. Eu e o Pawel (Pawlikowski) estávamos sentados na cerimónia quase um ao lado do outro. E havia um cameraman que estava apenas para perceber a reação dos vencedores. Quando era anunciada uma nova categoria já sabíamos que ia ganhar porque ele colocava-se logo a focar o futuro vencedor. E lá ia ele de novo junto do Pawel. Não quero passar por isso outra vez… (risos)

Como é o seu trabalho com os atores? Deixa-lhes algum espaço de improvisação ou está tudo escrito no guião?

Primeiro, escrevo o guião, e quando tenho algumas cenas importantes trabalho essas cenas com os atores, quando faço o casting. Nessa altura fazemos improvisações em redor dessas cenas. Muitas vezes, dizem alguma coisa que é brilhante e que acrescento ao guião.

Fico obviamente curioso como foi que escreveu a cena do Terry (Notary, que faz a performance de gorila no filme) e até que ponto estava disposto a deixar a cena correr?

Quando escrevi a cena, inspirei-me no artista punk GG Allin, um tipo completamente louco. Ao mesmo tempo, estava a googlar atores a imitar macacos e encontrei o Terry que estava a fazer uma demonstração para o filme Planeta dos Macacos. Foi aí que escrevi essa personagem que se iria confrontar com uma plateia de pessoas em smoking. E como preparava o filme a pensar em Cannes achei que seria interessante confrontar essa plateia com uma cena dessas. Filmamos essa cena em três dias, primeiro, como iria andar, subir às mesas e confrontar-se com as pessoas. Depois a coreografia de 40 takes em quatro dias.

É verdade que está já a trabalhar num filme novo?

Sim, estou já a trabalhar num filme novo que se chama Triangle of Sadness. Juro que é coincidência que seja um triângulo depois de um quadrado. Não estou a fazer uma trilogia sobre formas geométricas, embora graceje com o meu produtor dizendo que a seguir faremos um chamado Octogon of Confusion, e que nunca acabaremos… (risos). O triângulo da tristeza é quando temos essa forma numa ruga em cima do nariz entre os olhos, que supostamente mostra que temos alguma preocupações na vida.

Sobre o que trata a história?

O filme é sobre a minha mulher que é fotógrafa de moda. E sabe todas as histórias sobre o mundo da moda. Interessa-me a ideia de que a beleza pode ser transformada num valor económico. Por exemplo, nos conceitos que temos dinheiro, educação ou talento, a beleza também nos pode permitir ascender na sociedade, mesmo que não tenhamos dinheiro, educação ou talento. Só que os modelos masculinos estão no fundo da hierarquia da indústria de moda. Eles nem são chamados modelos, são modelos masculinos. E raramente são chamados pelo nome. São mais objetos.

Interessante esse desejo de beleza…

Recentemente houve um inquérito na Suécia, sobre se as pessoas preferiam ser bonitos ou com talento, e a beleza triunfou. No filme temos então esse modelo masculino, que é o rosto de uma marca de perfume, que é o topo a que pode ascender.

Tem algum nome em vista?

Não sei ainda, mas já tive uma reunião com o Armie Hammer em LA. vamos ver…

 

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