Quinta-feira, Abril 25, 2024
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DocLisboa: Marianne Faithfull à lupa por Sandrine Bonnaire

Faithfull

Sandrine Bonnaire (Heart Beat – DocLisboa)

A certa altura, durante uma viagem de carro a cantora Marianne Faithfull pede para a atriz e realizadora Sandrine Bonnaire parar de gravar, até que segundos depois e ante a insistência de deixar andar, Marianne mostra mesmo o seu lado mais sério e grave olhando fixamente na câmara ordenando-a para parar. Mas que mal fiz eu, queixar-se-á. Sente-se o ar de provocação, de tentar ultrapassar os limites para captar aqueles momentos off, a rimar de resto com alguma entrevistas televisivas em que uma muito jovem Marianne era confrontada com perguntas demasiado pessoais.

Ainda assim, é sempre Faithfull quem brilha, seja a assumir o seu lado de constante representação que manteve durante os anos 60 ou agora a assumir que se deixou disso e que apenas lhe interessa a verdade. E a frontalidade. Ela é mesmo a estrela do esclarecedor e mesmo, por momentos, verdadeiramente arrebatador Faithfull, captado como um jogo de sedução e provocação, e um dos quatro potentes registos femininos do Heart Beat, do DocLisboa, em parceria com poderosa Grace Jones, captado por Shphie Fiennes (Grace Jones: Bloodlight and Bami), o filme de abertura da secção, bem como a breve carreira de Whitney Houston (Whitney ‘Cant I Be Me’), além do percurso da cantora de intervenção francesa Colette Magny (Colette Magny’s Political Song).

Com o propósito de celebração dos 40 anos de carreira, Bonnaire capta a imagem da jovem artista que passou por todas as experiências, desde que foi descoberta aos 17 anos por mero acaso numa festa pelo produtor dos Rolling Stones, Andrew Loog Oldham, que terá decidido fazer dela uma estrela. Eu deveria ser uma das mais mal vestidas, confessaria Marianne numa posterior entrevista. Ela que em plena swinging London, e na companhia mais badalada, acabaria por aderir a um consumo elevado de várias drogas – recordando mesmo uma trip muito forte com Brian Jones, o membro dos Stones que morreria pouco depois – e já depois da ruptura com Jagger, após perder um filho seu, afirmará de forma mais consistente o seu percurso musical, não sem uma descida aos abismos do consumo mais pesado e à eminência da overdose.

Entre as linhas desta vida muito been there, done that temos ainda o perfil de enorme cantora que só desabrochou quando já não estava subjugada pelo estrelato de Mick Jagger, ele que escreveu para ela o famoso tema As Tears Go By, e que ela retribuiu com o polémico Sister Morphine, embora considerado pouco próprio para uma cantora, num período de uma Britânia demasiado conservadora.

Apesar do percurso mais ou menos linear da sua carreira, esta sim, demasiado agitada, Bonnaire vai acrescentando algo mais numa edição que enriquece os diferentes momentos, sejam as imagens de época ou as da banda atual, que ela considera a sua verdadeira família, alinhavados com os diferentes momentos musicais ao longo destas quatro décadas. Depois de tudo, tudo, Marianne desabafa e diz mesmo que agora só lhe interessa mesmo o amor verdadeiro. Vindo de quem vem nem sequer soa a cliché.

 

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