O fator humano atrás da notícia sensacionalista
– Seleção Oficial – Competição
O cinema romeno não cessa de nos surpreender; começando quase a afirmar-se como um género, um estilo que se afirma no seu inesgotável poder narrativo capaz de pegar em histórias banais torcendo-as para sugar algo refrescante e novo. E, talvez ainda mais importante, conseguir um diálogo muito próximo com o público, embora sem oferecer grandes concessões. Naturalmente, tudo isso se passa em Breaking News – assim mesmo o título original -, como que a espelhar esse lado global da política dos media, em geral, e o sensacionalismo em particular, com o toque feminino da jovem Iulia Ruginá, bem como a experiência de ter já inúmeras curtas no ativo e de trazer a KV o seu terceiro filme.
Quando um repórter de imagem morre em plena reportagem após o desabamento de um telhado, o jornalista que sobreviveu tenta emendar a precipitação na cena ao procurar a família da vítima para fazer um obituário póstumo. Só que no decurso desse processo, acaba por contactar com a reticente família do ex-colega, em particular a filha rebelde de quinze anos, embora vá descobrindo também a vida do seu colega e percebendo tinha tudo aquilo que a ele próprio faltava. Ou seja, gradualmente acaba por confrontar-se com o o distanciamento da sua própria família cavado ao longo da sua vida.
É claro que esta história poderia seguir o caminho redutor e intragável do vampirismo mediático se não fosse conduzida com o cuidado que merece. É aí que Ruginá mostra ser inteligente, algo que o mestrado em cinema a terá ajudado, ao lidar com as pontas da narrativa da melhor forma, conseguindo encontrar o sentido adequado e a tal frescura num tema mais ou menos corrente. É nesse trabalho cuidado do guião e carinho pelas personagens, em particular a filha adolescente, que esta história mantém a coesão. E há até o subtil uso do tema musical de Otis Reading Sitting in a Dock of a Bay que lhe confere um crédito suplementar.
