Quarta-feira, Abril 24, 2024
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EFA Awards: Peter Simonischek é Toni Erdmann

“Durante a rodagem tive de me tornar diferente e divertido.”

Paulo Portugal, em Wrocalw

 

O austríaco Peter Simonischek soube sair da sua pele de ator de teatro e superar qualquer barreira para usar a prótese dentária que o transformava na personagem Toni Erdmann, uma espécie de alter-ego para abanar a torre de um cinzentismo executivo em que a sua filha (Sandra Huller) se havia transformado; mais, soube ainda superar quaisquer embaraços e usar a cabeleira postiça, a caveira, a pele de um gigante de peluche. Não usava nenhum desses adereços quando falámos com ele em Wroclaw, na Polónia, horas antes de receber o seu prémio de Melhor Ator Europeu, por Toni Erdmann, o filme da alemã Maren Ade que viria a conquistar todas as cinco categorias em que estava nomeado. Ela que foi co-produtora de Miguel Gomes, em Tabu e na trilogia As Mil e Uma Noites.

Apesar da notoriedade que recebeu com o filme, desde que foi exibido em Cannes, em maio passado, sobretudo para um ator mais calhado com os palcos do teatro, ou o ecrã de televisão, Simonischek faz questão partilha com a realizadora o mérito da criação da personagem e exclui-se da autoria de uso dos vários adereços que usou como Toni. “Foi uma composição criada por ambos”, adianta Peter, o experimentado ator de 70 anos nascido em Graz  e com larga experiência nos palcos de Viena bem como na Suíça. “A ideia dos dentes e tudo isso foi dela”, precisou. “Durante os ensaios criámos muitas coisas que usámos depois. Mas há muito que não foi usado. O que não usámos dava para fazer dois filmes diferentes”, atirou.

Apesar do site imdb lhe contar mais de sete dezenas de participações, bem mais na tv, e menos no cinema, Simonischek admite que “quando aparece um bom papel para cinema também faço uma espécie de férias no teatro. Foi assim que fiz este filme. Por isso, a minha filmografia não é muito constante”, refere.

Foi numa dessas ‘férias’ que participou no casting para este filme e acabou por ficar. Ao recordar o momento, explica como essa ideia de criar uma personagem out of the box já marinava na cabeça de Maren Ade. “Quando fui com ela pela primeira vez a Bucareste, já ela própria vinha mascarada como Toni Erdman, usando o chapéu, os óculos…” Uma atitude de provocação. Algo que fica bem patente no filme. Maren que trazia mesmo uma mala em que guardava diversas próteses e adereços. Talvez o condão para fazer este septuagenário também sair da sua zona de conforto. “Sim, durante a rodagem tive de me tornar diferente e divertido.”
Apesar de tudo, Peter descreve Maren Ade como “muito calma e sensível”, acrescentando que “nunca houve pressas. Talvez seja essa uma qualidade dela”, elogia. “Desde o primeiro momento isso me surpreendeu. Acho que um dos segredos do sucesso dela é essa forma calma de estar com os atores. No entanto, o trabalho não foi assim tão divertido, porque houve muitas repetições. Mas nunca existiu uma qualquer situação de tensão.”

Tratando-se de uma comédia com um fino e indizível perfil dramático, mas com uma duração inusitada de 2h e 45 minutos, quisemos saber se sentiu essa duração durante a rodagem. “Quando ouvi dizer que o filme era tão longo, e eu venho do teatro, fiquei preocupado”, admitiu. “Talvez baseado na minha experiência do teatro. Por isso quando vi o filme com ela, uma semana antes de irmos para Cannes, fiquei surpreendido como funcionava. Percebi e disse-lhe: talvez tenhamos feito um grande filme…

 

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