Quinta-feira, Abril 25, 2024
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Cannes: Cafe Society light entertainment

Café Society motiva o regresso de Woody Allen ao género da comédia ligeira, mas também ao papel de mestre de cerimónia de Cannes. Com um eficaz Jesse Eisenberg na versão mais jovem de um Woody eternamente apaixonado por mulheres e pelo cinema.

 É o Festival de Cannes! Numa edição que promete e que cumpre já o mágico número 69. Como sempre, celebra-se o melhor do cinema de autor e misturam-se as estrelas de primeira ordem com os cineastas mais ousados. Sim, veremos George Clooney, Julia Roberts, mas também Robert De Niro, Kristen Stewart a desfilar na passadeira vermelha, diante os flashes das câmaras, ao lado de realizadores de culto, mais ou menos habitués a Cannes, com os novos trabalhos de Jim Jarmusch, Pedro Almodóvar, Xavier Dolan ou Paul Verhoeven, bem como dos manos Dardenne, Ken Loach ou Cristian Mungiu, todos estes já agraciados com a Palma de Ouro. Seguramente, um trabalho árduo, mas igualmente fascinante para o júri dirigido pelo George Miller (realizador de Mad Max – Estrada da Fúria).

E portugueses? Sim, vamos ter. Mas apenas com duas curtas-metragens lusas, a exibir na secção paralela da Semana da Crítica. Eles são Pedro Peralta e Cristèle Alvez Meira, representando Ascenção e Campo de Víboras, ambos os filmes já exibidos há pouco mais de uma semana no IndieLisboa. Ainda assim um dos mais aguardados filmes é falado em português. Trata-se de Aquarius, do brasileiro Kléber Mendonça Filho, que fará Sonia Braga, mesmo aos 66 anos, deslumbrar os fotógrafos na próxima terça-feira. E temos Woody Allen, claro. Regressando um ano depois de apresentar Homem Irracional, na competição, e pela terceira vez a abrir o festival de Cannes, o agora octogenário (celebrou 80 anos a 1 de Dezembro) trouxe o light entertainment para a Croisette.

That’s (light) entertainment!

 Em Café Society Woody pinta um cenário magnífico de Hollywood nos anos 30. Lá está, Woody Allen é como Cannes, não gosta de inovar muito. Tem a seu lado a banda sonora da época, o deslumbre de Hollywood iluminado em tons de sépia como se de uma fotografia antiga se tratasse e a jovialidade de um guião bem urdido. Woody é aqui o narrador de uma história em que ele próprio se veria, ao desenhar o perfil do jovem novaiorquino Bobby Dorfman (Jesse Eisenberg, eficaz como versão mais jovem de Allen) ao desembarcar na Califórnia como forma de sair do ambiente opressivo da sua família de origem judaica. A salvação parece ser o tio Phil (Steve Carell), um agente de vedetas e íntimo de Errol Flyn, Ginger Rogers ou Heddy Lamarr.

Só que entre o homem que segura Hollywood na palma da sua mão e o debutante tímido acabado de aterrar na Meca do Cinema, acabará por operar-se uma singular relação. É que ambos acabarão embeiçados pela mesma mulher, Vonnie (Kristen Stewart), uma rapariga que o tio apresenta ao sobrinho para o ajudar a conhecer a cidade. E a sair da casca. Por força do destino, e a perseverança judaica, Bobby acabará por deixar a sua marca em Nova Iorque bem como no coração de outra Verónica, num papel curto, mas convincente, da deslumbrante Blake Lively.

É claro que pelo caminho, Allen aproveitará para homenagear um sem número de estrelas da época, num algo pesado name droping, e apostando numa elegância um pouco barroca acaba por retirar parte da naturalidade às personagens. Sobretudo num filme onde a pureza da paixão acaba por chocar de frente com a oportunidade e a abundância caída no colo. Lá está, este é um caso em que menos talvez produzisse melhores resultados. Ainda assim, Café Society não deixa de ser perfeito como filme de abertura. Começa a ser um pouco assim o cinema de Woddy Allen. 

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