Terça-feira, Abril 23, 2024
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Saoirse Ronan A caminho das estrelas “Quero ser uma boa actriz”

Espera-se tudo desta jovem irlandesa de 26 anos nascida em Nova Iorque. Ofuscou a presença de Keira Knightley em Expiação e arrebatou uma merecida nomeação ao Óscar de actriz secundária. É agora em primeiro plano que surge em Visto do Céu, o novo filme de Peter Jackson, em que é assassinada por um pedófilo. Presa num limbo, observa a família e o monstro que se prepara para atacar de novo. Luminosa e etérea, foi sempre uma das candidatas à nomeação para Melhor Actriz. Encontramo-nos em Madrid para um fascinante frente-a-frente.

Saoirse (lê-se Ser-cha), aí está um nome invulgar! Se não estou em erro, a origem da palavra está relacionada com liberdade, certo?
É verdade. É um nome irlandês. Acho até que é bastante moderno…

No entanto invulgar… 
Sem dúvida. Mesmo para a Irlanda. Acho que foi inspirado num livro de crianças.
Acredita que essa expressão será até um moto na sua vida, na sua carreira?
Sim, por acaso, acho que reflecte a minha personalidade, a minha profissão, a minha vida.

Como foi que se relacionou com este projecto? Tinha lido o livro?
Por acaso não, apenas tinha ouvido falar nele através do meu agente. Entretanto gravei umas cenas que enviei ao Peter Jackson. Esperei para ler o livro depois de terminar o filme.

E porquê?
Eu tinha treze anos na altura, e disseram-me que era nova demais para ler aquele primeiro capítulo… É, de facto, algo muito profundo. Por isso não quis adiantar-me. Por outro lado, quis apenas concentrar-me no guião e não na história.

A sua prestação é sempre muito forte, mas a cena na gruta com o Stanley Tucci é mesmo profunda e emocionalmente perturbadora. Como foi que se preparou para mostrar essa vulnerabilidade? O Peter ajudou-a de alguma forma?
Um pouco.

O que estava a pensar na altura em que está a sós com o mostro?
Bom, o guião era uma óptima referencia. Está lá tudo. Mas se eu tivesse alguma dúvida, poderia ir ter com o Pete, a Fran (Walsh, argumentista e companheira de Peter Jackson) ou Philippa Boyens (argumentista). Aliás, era uma personagem que eu deveria ir descobrindo à medida que avançava na rodagem. No início, nem sequer a compreendida bem, nem sabia muito bem quem ela era. Sobretudo porque transforma-se muito ao longo do filme. Eu necessitava de reconhecer isso e saber quando aconteceria. Podemos ter alguém que nos ajuda, mas temos de ser nós próprios a compreendê-la. Foi óptimo trabalhar com o Pete, porque ele foi sempre muito envolvente e mostrava-me sempre como agir.

Deu-lhe também algumas dicas do ponto de vista psicológico?
Na verdade, nada que eu me lembre. Como disse, estava tudo no guião. É claro que tivemos algumas discussões sobre a personagem. Mas era no próprio dia, pois nem sequer ensaiamos muito. Ele tinha sempre uma ideia muito clara sobre como a cena se iria desenrolar.

A Saoirse fez alguma pesquisa ou falou com algumas raparigas que tivessem sido molestadas?
Na verdade, não. Mas acho que isso tema ver com a Susie (Salmon, a personagem), pois ela tem sempre um espírito muito aberto e não aceita durante muito tempo o facto de que está morta. Acho que é por isso que ela é diferente. Digamos que tive uma boa instrução por parte do Pete e de toda a equipa. Mas, na verdade, não fiz muita pesquisa… Acho que a música ajuda imenso, por exemplo.

E o que estava a ouvir quando preparava essa cena?
Era sobretudo música dos anos 70, que é quando se passa esta história. Brian Eno e outros artistas que escolheram para fazer a banda sonora. Ouvia também muita música clássica.

Como é que respondeu aos rumores de que teria neste filme uma das interpretações do ano e que poderia inclusive ser uma das nomeadas para o Óscar? Sentiu que isso lhe provocou uma pressão suplementar?
Quando me trouxeram a notícia, apenas engoli em seco. Tentei sempre não pensar muito nisso. É bom que as pessoas me vejam com essa exposição. É seguramente o melhor lugar para estar e a melhor reacção que podemos esperar da nossa performance. O importante é que gostem do filme.

Mesmo assim não seria a primeira vez que tal sucedia, pois foi nomeada por ‘Expiação’. Como descreveria essa sensação de ser nomeada pela primeira vez?
Por acaso, nessa altura estava eu na Nova Zelândia a filmar ‘Visto do Céu’. Por isso, foi uma notícia que nos chegou mesmo de madrugada. Lembro-me que os meus pais ficaram histéricos, enquanto que eu fiquei em choque. Foi mesmo algo totalmente inesperado. Eu nem queria acreditar que iria mesmo à cerimónia dos Óscares, um espectáculo que sigo há muitos anos na TV. Tive também muitos conselhos de pessoas que sabem o que é estar nos Óscares. Como o Peter Jackson que já ganhou imensos Óscares!… (risos).

Consegue encontrar algum ponto de contacto entre Susie e Briony (a personagem de ‘Expiação’)?
Bom, uma coisa eu me posso relacionar: é que são ambas raparigas criativas e têm ambas uma grande imaginação.
Percebo que é algo com que se relaciona bem…
Sim, sim. Eu imagino coisas a toda a hora. Estou constantemente a criar coisas na minha cabeça. A Briony é muito esse tipo. Quando à Susie vemos apenas a sua imaginação quando ela está no seu mundo “de passagem”.

Quando observava o trabalho de actor do seu pai também imaginava coisas. Por exemplo, que poderia um dia ser também actriz?
Antes de começar mesmo a representar não, acho que não. Eu era muito nova na altura. Teria uns sete anos.

No entanto, poderão existir muitos jovens que ; ao vê-la no ecrã, poderão pensar se não poderá um dia chegar a vez deles. Que conselho lhes diria, se pudesse?
Acho que é importante ter algum envolvimento com o teatro. Eu tive muita sorte na minha escola, pois todos os anos fazíamos um teatro. E todos nós tínhamos direito a interpretar dois papeis, pois éramos muito poucos. Eu sempre queria fazer dois papéis. Outra  coisa que podem fazer é um pequeno filme com os amigos. Eu adorava fazer isso, é muito divertido. Sobretudo porque não é nada sério. É apenas uma possibilidade de libertar a nossa imaginação e levá-la ao ecrã na TV. E depois ver bons filmes e não filmes de fraca qualidade. Quer dizer, sempre podemos ver os mais beras, mas deveremos prestar mais atenção aos de qualidade.

A Saoirse já teve a oportunidade de trabalhar com grandes actrizes, como a Keira Knightley, Vanessa Redgrave, mas  também a Rachel Weisz ou a Susan Sarandon. Está preparada para ser uma delas quando foi mais madura? Por outras palavras, como é que se encara num futuro não muito distante?
Uuuhh…. Não sei.

Pelo menos, sabe que é esse o seu caminho. E isso já ajuda, não?
Sem dúvida. Quero ser uma boa actriz. Não é que não me interesse ser uma estrela de cinema, mas o lado da fama e dos paparazzi é algo que não me interessa tanto. Se com essa exposição vierem também bons papéis e que as pessoas gostem do que eu faço, então acho que será óptimo.

Com todo este trabalho que tem, encontra ainda algum tempo para estar com a família?
Bom, os meus pais acompanham-me para todo o lado, o que é óptimo. Mas é sempre algo surreal estar diante de 20 fotógrafos aos gritos. Isso não é natural. Por isso acho que nunca ficaria muito confortável. Todo o resto vem com o trabalho. Gosto de me vestir, mas não gostaria que me perseguissem com uma câmara.

No meio de tanta agitação é difícil manter os pés no chão?
Não é assim tão difícil, pois tenho muita gente genuína perto de mim o tempo todo. É útil ter essa roda de amigos num meio que, por vezes, pode esconder os seus perigos. Se não estivermos conscientes do que significa a fama, então é melhor não ir por aí.

Já sabe o que vai fazer a seguir?
Sim, vou começar um novo projecto, mas não posso ainda falar nele.

Compreendo. Foi um prazer falar consigo. Boa sorte para o futuro.
Obrigada.

O QUE ESTÁ A FAZER

É um dos rostos que marcará por certo esta década. Nomeada para um Óscar com apenas 13 anos pelo papel revelado em ‘Expiação’, ao lado de Keira Knigtley e James McAvoy, terá terminado entretanto ‘The Way Back’, de Peter Weir, onde contracena com Colin Farrell. Entretanto, está já confirmada para ser cabeça de cartaz em ‘Hanna’, num reencontro com Joe Wright (realizador ‘Expiação’), onde terá Cate Blanchett e Eric Bana como pais fictícios.

 

Paulo Portugal

(publicado na revista Máxima edição de Maio)

 

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