Quinta-feira, Março 28, 2024
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Carey Mulligan: Um talento precoce

A adolescente rebelde em Uma Outra Educação tornou-se na jovem actriz mais desejada. E nem precisou de ganhar nenhum Óscar. 
É uma das actrizes do momento, se não mesmo “a actriz! O Óscar ter-lhe-ia ficado lindamente e, seguramente, a comunidade (e a imprensa!) recebê-la-ia de braços abertos na selecção de eleitas para os projectos mais apetecidos. Felizmente, isso não será necessário, pois aos 24 anos, Carey Mulligan, a nova “it girl”, tem uma agenda repleta de projectos em que é protagonista e que a confirmam como um rosto, um olhar e uma presença encantatória. A revista Vanity Fair apenas confirmou o inevitável, ao considerá-la uma das actrizes desta década! Felizmente, iremos rapidamente habituar-nos a ver o seu rosto.
Carey tem um ar de Audrey Hepburn e um olhar luminoso que resplandece na tela. É mesmo um caso raro de magnetismo. Em Uma Outra Educação é a adolescente seduzida, mas que também seduz, por um homem mais velho, com o rosto do excelente Peter Skarsgard, levando-a a viver os excessos da swinging London dos anos 60.
Foi há pouco mais de um ano, no festival de Berlim, que conhecemos esta londrina desinibida, de cabelo à Maria-rapaz, voz profunda e um olhar que sorri quando fala. Difícil foi, por vezes, manter a atenção, durante uma conversa olhos-nos-olhos em que o pensamento insistia em aplicar aquele rosto em filmes imaginários. Compreende-se por isso que Shia Labeouf se tenha perdido de amores quando com ela contracenou do filme de Oliver Stone, Wall Street: Money Never Sleeps, a sequela do filme que o próprio realizou há mais de 20 anos. Hoje Shia assume, visivelmente apaixonado: “É , de longe, a actriz mais talentosa que eu conheço”. Entretanto, “a menina de quem se fala” mostra estar à vontade em vários géneros e terminou já o thriller Never Let Me Go, ao lado de Keira Knightley, com quem se estreou em Orgulho e Preconceito, em 2005, bem como o inquietante Brighton Rock, na companhia da dama Helen Mirren. Entretanto, fazemos figas para que se confirme o rumor em vê-la como a futura Eliza Doolitle, no remake do drama musical My Fair Lady, repetindo a imagem de… Audrey Hepburn, que o talentoso John Madden preparar para estrear em 2012. E, já agora, que Colin Firth seja o Professor Higgins… Seria perfeito.

A exposição deste filme terá mudado a sua vida, não?
Sem dúvida, desde o festival de Sundance (Janeiro 2009) que não paro… (risos)

Então, e têm-na tratado bem?
Sim, muito bem. Eu nunca tinha feito isto…

Não me diga que este é o seu primeiro ‘press junket’?
É verdade. Nunca tinha feito promoção…

No entanto, este é um filme que lhe trará uma enorme exposição. Como é que vê essas mudanças rápidas na sua vida?
Eu ainda não senti nada disso. Só agora começo a aperceber-me. Sei que as opiniões são favoráveis, mas não estou em nenhuma digressão de auto-promoção.

Está preparada para os tablóides e os ‘paparazzi’?
Não, mas porque não faço nada que motive essa curiosidade. Como não vou a festas de outros filmes, nem quero receber prendas, acho que não terei de me preocupar.

Quando tinha 16 anos, o que pensava das raparigas que já namoravam os rapazes mais velhos?
Mas eu também namorava! Quando tinha 16 anos saí com um tipo de 25. E aos 18 (nem sei porque estou a contar isto…) trabalhava num bar e havia um tipo que passava sempre por ali e tinha um Ferrari. Acabei por sair com ele porque tinha um Ferrari… Tão simples como isto. Tinha estado num colégio interno, está a ver? Não tinha vida social…

E o que pensavam os seus pais na altura?
Eles não sabiam, claro. Bom, vejamos, foi uma saída à noite e não um namoro…

E quando lhes disse que queria ser actriz?
Não gostaram muito da ideia. Queriam que eu estudasse e que tivesse alguma segurança. Lembro-me de que nessa altura fiquei um pouco zangada por não me apoiarem. Agora que olho para trás, percebo que foi bom ter alguma coisa por que lutar. Depois passou-lhes.

Acha que era capaz de ir no tipo de flirt que o Peter (Sarsgaard) tem no filme (Uma Outra Educação)?
Não sei… Talvez, pois ele não parece nada sinistro. Aliás, é adorável. É que a personagem dele é irresistível, pois nada do que ele diz é errado. Mas ela vai com ele porque quer. Foi uma sedução assumida. E devo às Lone (Sherfig, a realizadora) esse equilíbrio, pois tanto ele como ela dirigem essa love story. É ela quem decide entrar no carro dele, no início do filme…

Não lhe parece que este tema da educação é relevante para o período e que vivemos?
É uma história de crescimento, por isso é sempre relevante. É apenas uma fotografia da vida de uma pessoa, mas que pode correr mal. No caso dela, aprende com os erros a forma como irá viver a sua vida. Acho que isso acontece a toda a gente…

É interessante a acção passar-se no início dos anos 60…
Sim, antes dos Beatles e dos Rolling Stones. O que torna a história mais interessante. É que nessa altura estava tudo muito estático. É como se ela vivesse numa jaula. Ela vive numa família errada. Os pais não a compreendem e ela não os compreende a eles também.

Quando era mais nova, era também assim rebelde?
Não, nada. Os miúdos eram capazes de ir fumar às escondidas, mas eu era incapaz. Na verdade nunca tive nada que me fizesse revoltar. Se calhar a coisa mais rebelde que fiz foi ser actriz.

Nessa altura, tinha essa noção de que a educação era a coisa mais importante na vida?
Sim. A minha mãe sempre quis que eu fosse para a universidade, mas eu nunca fui (risos). Por sermos obrigados a escolher tão cedo uma área, isso pode trazer algumas complicações. Eu ficava com a impressão de que aprendia coisas apenas para passar nos testes e não para o meu próprio interesse. Talvez por isso tenha reagido à minha própria educação. Hoje, por exemplo, vejo com muito mais clareza aquilo que gostaria de estudar. Mas se tivesse seguido, talvez tivesse perdido bastante tempo e dinheiro. Por isso não me arrependo. Agora estou mais interessada, mas também não tenho tempo…

Será tarde demais?
Não, não, porque podemos frequentar universidades abertas e estudar onde quer que estejamos. Apenas precisamos de tempo.

Com todos os projectos que tem, não considera a possibilidade de mudar-se para os EUA?
Não me parece. Gosto muito de Londres e não penso mudar.

Teve um papel interessante, ainda que secundário com o Johnny Depp, em Inimigos Públicos. Como foi essa experiência?
Como diz, foi bastante breve. Fazia o papel de uma prostituta e basicamente vestia um fato ousado e tinha algumas cenas com o Johnny Depp. Era uma loura platinada, tipo Jean Harkow. Foi divertido. Foi o filme que fiz, logo a seguir a este. Voei de Londres para Chicago e fiz tudo em jet lag. Mas acho que correu bem…(risos)

É verdade que viveu aqui na Alemanha?
Sim, em Dusseldorf. O meu pai era gerente de um hotel. A razão pela qual fui para um colégio interno foi porque ele foi trabalhar para Viena.

Isso significa que viveu parte da sua vida em hotéis?
Sim, até aos meus oito anos.

Como foi a experiência?
Eu adorava não ter uma casa como toda a gente. Talvez por isso me sinta sempre muito bem em hotéis. Lembro-me até quando fomos habitar pela primeira vez a minha casa, na Áustria, e usámos uma chave em vez de um cartão… (risos) Aliás, é para lá que gosto de ir quando não estou a trabalhar.

Isso significa que domina várias línguas?
Não, gosh, não! Sou capaz de entender alemão, mas não falo muito bem. Salvo quando bebo um copo e solto a minha inibição. Aí falo tudo…

Já teve a percepção de que as coisas estão a mudar para si?
Nem por isso, porque de qualquer forma eu teria seguido o mesmo caminho. Teria continuado a fazer filmes independentes ou, pura e simplesmente, a tentar obter trabalho. Talvez esta exposição toda tenha facilitado um pouco a oferta de trabalho, apesar de o filme ter passado um pouco despercebido. É bom sentir esta agitação toda e gostaria que ajudasse a que mais pessoas fossem ver este excelente filme.

Como é que lida com toda esta atenção?
Nesta altura, não dá ainda para sentir por toda a protecção e envolvimento com o filme. Por isso fiquei surpreendida quando saí do aeroporto e logo fui abordada por caçadores de autógrafos. Nunca me tinha acontecido.

Não gosta de tirar fotografias?
Por acaso, não gosto muito. Nunca fui muito boa nisso, embora as fotos que fiz para a promoção do filme saíram muito bem, porque tinha a Lone (Scherfig, a realizadora) explicou-me o que significavam exactamente e que eram necessárias para publicitar o filme. A diferença é que eram fotos feitas em privado e não no meio da multidão. Fico sempre com impressão de que estou a fazer uma pose. Talvez com 30 anos de carreira já saiba, mas agora não faço a mínima ideia.

O seu sotaque é londrino?
Sim, mas eu sou natural do Pais de Gales. Adoro ser galesa. São óptimos cantores!

Sim? E de que música gosta?
De tudo um pouco. Mas de muito de indie rock e folk. Gosto muito dos Vampire Weekend, por exemplo. Já não gosto muito do estilo house.

Deve viajar muito. Qual é a sua cidade favorita?
Nova Iorque.

Porquê?
Não sei, mas acho que ali é tudo um pouco mais vivo. Mas se calhar também porque fiz lá um filme que correu muito bem. E Londres. Sinto saudades de casa, porque tenho estado for a tanto tempo.

Consideraria a hipótese de mudar caso surgissem propostas de trabalho interessantes para viver nos Estados Unidos?
Não, não. Todos os meus amigos estão em Londres.

Desculpe, mas não resisto perguntar: já alguma vez lhe disseram que é muito parecida com a Audrey Hepburn?
(sorriso misterioso) Sim, por acaso, já…

Paulo Portugal, em Berlim


(publicado na revista Máxima edição de Maio)

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